terça-feira, 11 de maio de 2010

Trezentoseoito

Tava tudo combinado já. Liguei para o Murika:
- Vamos treinar?
- Bora!
- Demorou!
- Vamo nessa então!

Chegamos um pouco cedo, mas já estava por lá o Fillipe, o Maurício e alguns manos. Na sequência fiquei impressionado com o tanto de gente que chegou, o mais velho da turma devia ter uns 15 anos. Rs!
Os batutinhas foram para o outro canto e nós ficamos por ali conversando esperando algo ou alguém pra começar a treinar. Pra falar a verdade nem sei o que estavamos esperando. Na sequência chegou o Milano, antes de falar com qualquer um, mandou um front flip, saiu voltou de side flip, voltou de novo mandou outro front flip e quando caiu de pé mandou outro no pouco espaço de grama e com a pouca força que lhe restava e, consequentemente não conseguiu completar, caiu meio de lado com um pé só. Lembro de alguém, se eu não me engano o Maurício dizendo: "Po mano tu sabe que num dá, rs!". Na sequência saudou a todos e continuamos a conversar.
Saímos dali depois de alguns minutos e fomos treinar. O Fillipe foi dar uns toques na galera que era iniciante. A princípio percebi que eles estavam observando o Fillipe que lhes instruía no saut de précision e depois não vi mais.
Saímos dali eu e o Murika. Alongamos e fomos dar uma aquecida. Confesso que estava um pouco travado. Tanto tempo sem treinar me deixou na mesma condição daqueles aos quais o Fillipe instruía. Tudo certo!
Quis começar do começo. Fui para um lugar afastado decidido a fazer alguns rolamentos. No primeiro que fiz, vi que ainda estava tudo como tinha deixado há 4 anos atrás, tirando a parte que o movimento estava errado... Mas enfim, fiz mais alguns e fui encaixando a técnica até fazer quase 100% certo.
Saindo dali depois de alguns minutos, chamei o Murika para irmos até uns corrimões de contenção amarelos que ficam há um palmo do chão, para treinarmos um pouco de balance. Todo o conjunto de corrimões fomavam um total de mais ou menos 30 metros ida e volta, com alguns obstáculos, como por exemplo o espaço entre um e outro e uma parte que ambos se afastavam deixando apenas alguns caninhos na vertical. A princípio o grande desafio era fazer o percurso de ida (mais ou menos 15m) o mais rápido e equilibrado possível no balance. Estava muito difícil. Depois comecei a aperfeiçoar uma técnica que, apesar de lembrar filme chinês de kung-fu, me ajudou muito a ter mais equilíbrio e concentração. Percebi que não conseguia me concentrar no balance e não tinha muito equilíbrio por que estava com a cabeça muito longe dali, talvez em ver como estava o desempenho do Murika ou como estava o saut de précision do outro lado. Então comecei a aplicar a nova técnica: No lugar haviam muitas árvores em volta a alguns blocos de apartamentos, o lugar era bem tranquilo. Comecei a prestar atenção no som dos pássaros nas árvores e comecei a coordenar esses sons com o barulho da minha respiração. Consegui então encaixar som e ritmo da respiração com o som e ritmo dos bem-te-vis, sabiás e joão-bobos que estavam assistindo o treino. Percebi que ia cada vez mais longe, e me encantava com a nova técnica. Até falei com o Murika: "É só ouvir os pássaros mano!".
Em uma das tentativas, consegui então completar os 15m com obstáculos de balance. Era perfeita a harmonia entre pássaros, respiração e passadas firmes. Murika também conseguiu. A técnica era infalível, então propus: "Vamos agora ida e volta?". Murika topou. Tudo certo. Fomos e voltamos várias vezes.
Exaustivo treino de balance, muitas tentativas frustradas. Fizemos alguns movimentos aleatórios também.
Depois disso, o que durou mais ou menos umas duas horas e meia. Voltamos até aonde estava o Fillipe com o pessoal fazendo saut de précision, e foi quando todos resolveram ir para um outro lugar. Foram todos.
Ficamos eu, Murika e Fillipe. Lembro como se fosse ontem o Fillipe dizendo: "Agora vamos treinar força." Eu dei um sorrisinho assim e pensei: "Hahaha! Essa foi boa." Mas ele realmente estava falando sério.
Quadrupedal até o fim das nossas vidas, que parecia mesmo estar perto do fim. Rs! Fiquei tão exausto que quis vomitar. Quadrupedal seguido de sequências de flexão. Fillipe sagaz! Eu e o Murika semi-mortos.
Percebi ali, o quanto estavamos precisando daquilo, não conseguimos completar todas as sequências. Não era humanamente impossível, porém, minha mente estava condicionada a um outro tipo de treino, que por incrível que pareça, ficou absolutamente nulo perto daquilo que acabara de descobrir. Agora entendo quando dizem que é preciso (não é uma escolha) ter força.
Lembro que fiquei tão feliz com aquela nova descoberta, de como é bom ter força e como é ruim não ter que quando cheguei em casa, fui pesquisar sobre força e achei o seguinte artigo:


Que a força esteja com você!


A famosa "força" dos cavaleiros Jedi agora pode ser sua, por uma quantia módica de 100 dólares. O novo produto da franquia de Star Wars é esse tubo estranho. Ele vem com um headset que capta suas ondas cerebrais que fazem mover a bolinha que fica dentro do tubo.




Quanta mais alto você faz a bolinha subir maior é o seu nível Jedi. Você começa no nível Padawan e vai até o nível de mestre.

Brincadeiras à parte.
Mas depois desse treino tenho certeza que a palavra força pra mim, com certeza passa a ter um novo significado.
Certa vez ouvi uma pessoa me dizendo: "A maior prisão não é no corpo, e sim na mente." Fato!
O fato de não ter força, nos condiciona a, além de termos uma concepção totalmente equivocada do seu verdadeiro significado, ainda termos tanta dificuldade no Parkour. Seja para vencer um obstáculo ou vencer os limites físicos do corpo, ter força, com certeza foi o segundo grande segredo que descobri nesse dia.
Quadrupedal hoje faz parte da minha vida no Parkour. Obrigado Fillipe por ter me mostrado a verdadeira condição do meu corpo quando ele tem força. Obrigado Murika por ter me acompanhado nas sessões e compartilhar comigo este aprendizado todos os dias.
Vamos treinar e descobrir a cada dia, o quanto ainda somos fracos quando olhamos para o lugar que ainda podemos chegar.

Erick Freire 

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